domingo, 1 de setembro de 2013

Procura-se um amor que goste de Chico



Quase como um anúncio no principal caderno dos jornais. Um apelo emocional. A manchete da semana: “Procura-se um amor que goste de Chico”. Digno da presença de orixás, sermões de pastores, passagens bíblicas, coincidências mitológicas ou até mesmo a total descrença na fantasia. Veja que não procuro diplomas vazios e corpos letrados. Não fantasio com a total fidelidade e obediência de alguém, mas sim que escute e entenda Francisco Buarque de Holanda. A confiança que deposito em alguém assim é assustadora.

Uma pessoa assim entende, mesmo que sem querer, muitas coisas das quais outros acabam se afastando. Entende a profundidade da entrega, o abismo da perda, o breu da solidão. Sente seus membros amputados arrumando o quarto de um filho que já se foi, como um revés de um parto. Coleciona retratos em preto e branco, sonetos e sabe meus segredos decorados. Quero aquela pessoa que perde o sono na espera de que nosso tempo seja consumido até que o amor caia doente.  Saia pelas ruas de bar em bar desesperado com a minha ausência, mas com a certeza da minha chegada. Compreenda como sofrem os marginalizados, aqueles que por falta de escolha tornam-se nossa gente humilde e nossas Bárbaras. Perca a noção da hora,  confunda nossas pernas, tenha os meus seios em mãos e queime seus navios.

Saiba admirar as nossas carolinas que adormeceram e não veem o tempo passar.  O perigo que é viver com as beatrizes e suas paredes de giz.  As ritas que deixaram mudos os violões.  Angélica, Nina e lígia. Todas em busca de um novo amor.

Tenha a noção que vivemos em um país que está em construção e espera por um grito de que vai passar. País este sufocado pela eterna dúvida do que se passa pelos becos da democracia que tanto faz com que nossos políticos enriqueçam cada vez mais e ainda pede para que deus lhes pague. Saiba que toda essa gente quer no seu destino mandar e não mais precisar de tanto mar para nos separar da decência.  Uma gente enojada com as mãos sujas de uma democracia porca.  Alguém que sinta em Deus uma grande vaidade, um narciso disfarçado de bom moço que nos apresenta os vales onde brota o leite e o mel, mas estes já são de Deus. Nunca, em momento algum, esqueça que já fomos o país das sinhás, em que se apagaram as luzes de muitos. Cuspa em seu cálice e ofereça aos que dominam o zepelim, pois nossas Genis estão fartas.

É com açúcar e com afeto que procuro o meu amor, para que nos tornemos futuros amantes.

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